Dez imagens de pessoas em tamanho real aplicadas em muros espalhados por Macapá chamaram atenção, deixaram curiosos e até assustaram algumas pessoas no início da semana. O G1 apurou que as intervenções são artísticas e fazem parte do projeto “Existência” do artista visual piauiense Mauricio Pokemon, de 28 anos.
As aplicações são fotografias de quilombolas do Curiaú, na Zona Norte da cidade, e ribeirinhos das margens do rio Pedreira, que passa entre distritos da capital. As fotos foram feitas por Mauricio em dois dias. Além de registrar as pessoas, ele também conversou para saber como é a relação delas com a floresta.
Depois de fotografar os amapaenses, ele imprimiu as imagens em tamanho mais parecido com o real e usou a técnica lambe-lambe para aplicá-las em muros da cidade, geralmente em espaços abandonados. No Amapá, o trabalho ainda pode ser visto nesses locais.
“O que procuro é ativar o olhar da sociedade sobre seus ribeirinhos, para uma discussão sobre essas pessoas com relação e história tão genuína, legítima sobre o lugar, mas que em geral têm sido subjugadas, subvalorizadas pelas novas gerações, pelas administrações ditas modernas. E essa discussão é aberta, revelada ao modo que cada lugar se vê em condições, consciência e interesse de fazer”, descreveu o artista visual, que retornou para a cidade natal, Teresina.
As intervenções urbanas fazem parte do projeto “Existência”, que foi criado em 2015, na capital do Piauí. Em Macapá, as obras chegaram através do projeto Sesc Amazônia das Artes, que leva a ideia para 10 estados da região.
Ao verem as imagens nos muros da capital, alguns moradores ficaram curiosos e fizeram postagens nas redes sociais para tentar descobrir a origem e motivo das figuras.
“Quando vi a imagem realmente fiquei assustada e inquieta. Mas, rir bastante e me perguntei: ‘O que é isso? Eu ainda não tinha visto nada igual, por isso a inquietude”, contou a publicitária Larissa Guimarães, de 36 anos.
Por outro lado, houve quem achou interessante a intervenção e gostou de poder contemplar arte na rua. O instalador de som automotivo Emerson Souza, de 23 anos, saiu do trabalho e viu a fotografia de uma ribeirinha no muro de uma boate abandonada no Centro da cidade.
“Se olhar de longe parece pintura, mas de perto parece um adesivo. Para mim, é uma arte. Quando ela vem para embelezar o local, tudo bem. Mas quando é vandalismo, não é legal. Eu não me assustei, achei curioso porque é uma foto em tamanho real. Achei interessante”, disse Souza.
Formado em jornalismo, o artista visual tem envolvimento com a arte desde 2012, princialmente com as expressões contemporâneas, expondo o trabalho em locais públicos e incomuns. Ele afirmou que, pelas cidades em que passou com o projeto, Macapá foi a primeira onde os moradores reagiram com espanto.
“Considero uma reação legítima, e acolho, certamente me gera pensamento sobre o trabalho e o tempo em que vivemos. Confesso me surpreender com o fato de que os outdoors com padrões irreais de beleza, forjados por photoshop, sejam encarados com normalidade, enquanto que essas imagens que são corpos marcados pela vida, sem nenhuma maquiagem e de pessoas tão próximas, provoquem esse grau de confronto”, finalizou Mauricio.